🎧 um postal para ler ouvindo jorge palma - a gente vai continuar.
um postal comemora hoje um ano 🎂
[antes de mais: obrigada, muito obrigada, a quem, durante este ano, foi lendo os postais que enviei. na verdade, ainda que sendo escritos de forma livre e despretensiosa, é muito bom saber que são lidos e apreciados. ❤️]
o primeiro postal foi escrito a 24 de abril de 2024. a partilha e comunicação oficiais (uau, dito assim, até parece uma coisa muito séria!) foram no dia 25 de abril de 2024.
e a escolha da data não foi inocente.
um postal foi lançado no dia da liberdade porque este é um dos valores mais importantes na minha vida e uma pedra basilar na forma como ajo comigo, com os outros, com o que defendo, com o que procuro. até na forma como escrevo, como viajo, como olho para o mundo, como faço as minhas escolhas.
sou grata por ter nascido em liberdade e ter sido educada para ela.
prezo-a, estimo-a e cultivo-a. rego-a diariamente.
cresci a ouvir o meu pai dizer(-me) muitas vezes a frase “liberdade com responsabilidade” e isso valeu-me um passe de livre trânsito para muitas coisas, sobretudo, na adolescência, quando ainda dependemos dos pais mas achamos que somos adultos o suficiente, para fazer tudo. a liberdade que me foi concedida, era um voto de confiança em mim que, naturalmente, não me isentava de consequências quando utilizada de forma errada.
se a usei sempre bem?! provavelmente não. (uhm, acho que podemos esquecer o "provavelmente”. a resposta é, tão somente, não.)
mas, errar é - também - uma forma de aprender. e até a liberdade de errar é importante e fundamental, para nos formar enquanto pessoas.
não entrando no campo filosófico para definir liberdade, basta olhar para todas as suas formas (civil, religiosa, de expressão, entre outras) para perceber que ela parte sempre do mesmo sítio: de dentro. começa na possibilidade de ser-se quem se é. dito desta forma, parece bastante simples; pode, no entanto, ser mais difícil do que parece. estamos sempre condicionados pelo meio, pela cultura, pelos outros, pela sociedade, pelo mundo em geral.
quando me perguntam porque gosto de viajar sozinha, a resposta desagua, inevitavelmente na sensação de liberdade: sozinha, num lugar completamente desconhecido é onde sinto, verdadeiramente, quem sou. tenho zero condicionantes. não é o mesmo que viajar com o marido, a mulher, o namorado ou namorada, a melhor amiga, o irmão, o pai (que podem ser excelentes companhias, naturalmente). mas sozinhos somos a nossa versão mais crua e pura. e isso é, para mim - muito - libertador!!
há dias ouvia o joão manzarra, também ele fã de viajar sozinho, a dizer esta frase no podcast “a beleza das pequenas coisas”.
é exactamente isto: liberdade total. 😉
e não é preciso ser rebelde, altamente disruptivo nem subversivo para a querer, a desejar, a procurar… ou para não saber viver sem ela. até porque “quem não ama a solidão, não ama a liberdade”.
sobre a liberdade
liberdade é pouco. o que eu desejo ainda não tem nome - clarice lispector
a liberdade na escrita: há umas semanas estive a ver a entrevista de ana sousa dias a josé saramago - já tinha visto alguns pedaços, mas creio que nunca a entrevista na íntegra. gostei imenso e recomendo vivamente. conhecem-se, são amigos e isso faz toda a diferença, porque a conversa acaba por fluir de uma maneira muito natural e simples. saramago fala da sua forma livre e diferente de escrever, quebrando regras e convenções que, relembra, para serem quebradas, precisam ser conhecidas. precisa dominar a sintaxe para exercer a liberdade de entrar em ruptura com ela. ver esta conversa foi, também, um lembrete para mim: tenho ainda tantos livros de saramago para ler.
depois da liberdade na escrita, falemos da liberdade na leitura. e neste campo, the oscar goes to… livros de poesia! adoro a liberdade de os poder ler sem ordem específica. de abrir hoje na página 54 e amanhã, se me apetecer, na 17. muitas vezes assinalo os poemas que já li porque, de facto, nem sempre sigo a ordem das páginas. ou, por outro lado, se quiser, então sigo e - passando as redundâncias - começo no início e acabo no fim 😉 esta liberdade, que me apraz, faz com que haja sempre um livro de poesia a fazer-me companhia no quarto. neste momento, estou a ler (há já algum tempo) “a única maneira de esquecer a beleza”: uma antologia só com poemas de mulheres, traduzidos por luís filipe parrado. é bem grandinho, mas vou lendo devagar e tem sabido muito bem.
devagar e… livremente 😊
um dos poemas mais bonitos que conheço sobre liberdade é de sónia balacó, do seu livro ‘constelação’
pensei
que a liberdade vinha com a idade
depois pensei
que a liberdade vinha com o tempo
depois pensei
que a liberdade vinha com o dinheiro
depois pensei
que a liberdade vinha com o poder
depois percebi
que a liberdade não vem
não é coisa que lhe aconteça
terei sempre de ir eu.
teremos sempre de ir nós…! sempre.
para pensarmos, uma frase de bakunin “só serei verdadeiramente livre quando todos os seres humanos que me cercam, homens e mulheres, forem igualmente livres”
para ler, sobre a falta de liberdade, o livro “antes do 25 de abril era proibido” de antónio costa santos
termino com a liberdade de escolha que uma sociedade democrática nos dá, apelando a que não se esqueçam de a exercer na mesa de voto dia 18 de maio.
recebam este postal com um cheirinho de alecrim, sim?!
até breve. 😘