🎧 um postal para ler ouvindo tom jobim - a felicidade
sempre cantei esta música de vinicius de moraes, com uma interpretação triste, até ter ouvido, certo dia, ricardo araújo pereira a abrir nela uma outra possibilidade. mais feliz! e a relembrar-me que, de facto, um ponto de vista é, sempre e só, a vista de um ponto.
indagava ele: será que vinicius queria dizer que a “tristeza não tem fim”, por ser algo contínuo, ininterrupto, por não ter nunca um final, por existir sempre alguma coisa que nos deixa tristes? e a “felicidade, sim”, a felicidade acaba. é feita de momentos e não um estado permanente.
ou, por outro lado, a palavra fim, seria apenas o sinónimo de finalidade, querendo o autor dizer que a tristeza não tem qualquer propósito, qualquer intuito ou, lá está, qualquer fim encerrado em si? e aí, “felicidade, sim”: a felicidade, essa, tem uma intenção, um objectivo.
eu não sei a resposta, o ricardo araújo pereira com certeza também não, mas escolhi, desde então, passar a considerar que, efectivamente, a tristeza não tem qualquer finalidade major e, ainda que ela seja natural e necessária, para conseguirmos valorizar os momentos bons e felizes, tento - tanto quanto possível - demorar-me pouco nas visitas que lhe faço (ou que ela me faz…).
“tristeza não tem fim, felicidade sim”
e a propósito de tristezas, felicidades e pontos de vista, há dias uma amiga partilhava uma imagem com o texto “somos a geração triste das fotos felizes”.
é, lamentavelmente, verdade.
fiquei a pensar na frase e, inclusive, cheguei a falar com ela sobre isso e sobre o facto de as chamadas “doenças do século xxi” serem muitas delas, do foro psiquiátrico: burnouts, depressões, ansiedade, ataques de pânico - o que faz a tal “geração triste”.
dias depois ouvi uma expressão sobre o facto de existirem, hoje, muitos jovens infelizes, em que alguém dizia que “muito por culpa das expectativas criadas pelas redes sociais - e que nem todos sabem gerir - os jovens de hoje estão a ter uma crise de meia idade precoce”. dá que pensar… sobretudo por perceber que a culpa disso é um excesso de informação oca e desinteressante.
quando a tristeza (essa que não tem fim) e a felicidade (essa, sim) estão dependentes de coisas como as redes sociais, “algo está [mesmo, muito] podre no reino da dinamarca”, não é shakespeare?!?!
sobre a felicidade
segundo uma fórmula elaborada pelo neurologista jacob jolij, estas são as 10 canções que provocam mais alegria nas pessoas
concordo com algumas… outras, nem tanto! que música te deixa, verdadeiramente, feliz? se quiseres, partilha comigo. vou gostar de saber!
o livro “sentimentos” de libby walden, uma viagem que explora o mundo das emoções e sentimentos, com metáforas deliciosas e ilustrações capazes de nos fazer viajar um bocadinho. é um livro infantil, mas posso relembrar saramago?
dizia ele:
“e se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?”
o livro “a arte de criar memórias felizes” de meik wiking - li-o há alguns anos e o seu título, na altura, chamou-me a atenção, pelo facto de eu ter uma relação sui generis com a memória. à medida que me conheço melhor, percebo que tento materializar ao máximo algumas memórias, com receio de as perder no tempo. volto com frequência a memórias (objectos) que me fizeram feliz em determinada altura: fotografias, agendas, postais, cadernos da escola, livros dos meus avós, entre outros. o livro é de leitura leve, simples e traz dicas de como tornar momentos especiais em memórias inesquecíveis e felizes.
a frase de mia couto:
“sou feliz só por preguiça; a infelicidade dá uma trabalheira pior que doença…”
curiosidade: sabias que o dubai tem um ministério da felicidade? actualmente, com uma mulher como ministra, com a responsabilidade de garantir que as políticas governamentais geram satisfação e bem-estar e, por conseguinte, uma sociedade mais feliz.
o livro “enciclopédia dos verbos felizes” de marco taylor é um dos mais bonitos que tenho na minha estante. este livro é, todo ele, feito manualmente pelo autor (que, de resto, tem outros livros que também valem a pena conhecer) e é composto por frases pequenas que nos relembram a felicidade que as coisas simples podem envolver “ouvir uma música de que se gosta muito”, “dar um abraço demorado, de olhos fechados”, entre outras.
e termino com uma lista de coisas que me fazem feliz e que partilhei (talvez já mais do que uma vez) no dia internacional da felicidade - 21 de março. algumas, são coisas bem pequeninas, mas todas me deixam com um brilho nos olhos e o coração a tropeçar entre batidas. é isto ser feliz, não é?!
as gargalhadas do lourenço. vê-lo a dormir. ter a certeza que é uma criança feliz. comer chocolate. viajar. fotografar. prestar atenção às cores de cada coisa. recordar viagens. almoçar sozinha. ser grata. o cheiro dos livros. pele bronzeada. roupa a cheirar a amaciador. gambas al ajillo. praias de água morna. piqueniques. telefonemas inesperados de amigos. ver o pôr-do-sol. o frenesim do aeroporto. granola caseira. ser voluntária. a saúde dos que amo. acordar sem despertador. fazer malas. jantares com amigos. planear viagens. ouvir rui massena de olhos fechados. o calor de áfrica. comida indiana. cuidar dos outros. chinelos no pé. mangostão. caminhar na natureza. a luz da primavera. escrever. macarons. os poemas de ary dos santos. caramelo salgado. pessoas que me fazem rir. ver os meus álbuns de criança. o cheiro do ribatejo. dar. mensagens de whatsapp de alguém que tenho saudades. sonhar.